terça-feira, 2 de novembro de 2010




ETERNA DÚVIDA - Um diálogo nem tão improvável assim

Personagens: Sal e Dedê



Sal – Ai, Dedê, não sei não. Estou achando complicado essa história toda.

Dedê - Como assim?

Sal - Bateu um medo agora.

Dedê – Agora?

Sal – É.

Dedê – Não brinca Salzinho. A gente não treinou todo esse tempo pra nada, né?

Sal – Não, acho que não.

Dedê - Então, pronto. Vai lá e faz o que tem que ser feito.

Sal - Sei lá. Estou em dúvida.

Dedê - Você não sabe o que tem que fazer?

Sal - Sei.

Dedê – Eu não te dei as instruções?

Sal – Deu.

Dedê – Eu não te falei que vou ficar de longe te vigiando?

Sal – Falou.

Dedê – Então, mais do que isso eu não posso fazer. Você sabe que eu não posso aparecer. Agora é contigo Sal.

Sal – Tô com cagaço.

Dedê – Você não confia em mim?

Sal – Claro, Dê.

Dedê – Então presta atenção. As instruções estão aí nesse papel. Faz o passo a passo, com calma. São dez ao todo. Não vai levar muito tempo. Não tem erro. É chegar, fazer e voltar.

Sal – Eu entendo, mas o problema é que os caras lá são mais malucos do que eu pensava. Está um puta climão naquele lugar.

Dedê – Sal, você não estará sozinho. Eu já entrei em contato com a família que vai te hospedar. O Zé vai estar com a mulher dele te esperando. O lugar é bem simples, afastado, mas me parece acolhedor. Lembra uma fazenda. A essa hora, eu acredito que eles já devem estar te esperando.

Sal – E a questão da grana?

Dedê – Fica tranqüilo que está resolvido. Contratei três caras que vão te encontrar lá na fazenda pra te dar algum. Eu deixei tudo a cargo do Gaspa. Ele está sabendo de tudo e vai aparecer algumas horas depois da sua chegada.

Sal – E depois?

Dedê – Depois você vai da fazenda pra cidade e começa com o lance das historinhas que te falei.

Sal – Será que eles vão acreditar mesmo nisso?

Dedê – Lógico que vão. Você mesmo não disse que eles estão todos malucos?

Sal – Mas e como é que eu faço pra me comunicar com você caso tenha algum problema?

Dedê – Eu realmente não tinha pensado nisso.

Sal – Eu não posso olhar pra você como quem não quer nada?

Dedê – Pode ser. Até porque, no meio da confusão, eles não vão nem lembrar da minha existência. A princípio, eu acredito que eles não desconfiarão de nada, mas podemos fazer melhor.

Sal – O quê por exemplo?

Dedê – Você olha pra mim e, disfarçadamente, faz o sinal da cruz. Aí eu já sei que você está precisando de alguma coisa e tomo uma providência imediata.

Sal – Assim está melhor.

Dedê – Ah, e não se esquece. Se alguém perguntar, pode até falar que é meu filho, coisa e tal, mas tente manter a linha pobretão, pé descalço, barba por fazer, sacou?

Sal – E a questão do nome?

Dedê – Bom, eu tinha pensado em Salvador mesmo, mas acho melhor mudar pra Jesus Cristo. Salvador pode dar muito na cara.

Sal – Beleza.

Dedê – Então tá fechado.

Sal – Ok!

Dedê - Vai lá filhão. Qualquer coisa já sabe, sinal da cruz. Papai estará aqui te olhando.

Sal – Obrigado Dê.

Dedê – Vai com fé que essa história vai dar um livro.
Gabriel Taco
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Um comentário:

  1. Nobre Gabriel!!!

    imaginei em quadrinhos...rsrsrs
    contemporâneo, ágil, cativante, engraçado e extremamente sereno!!!

    Parabéns por [re]contar a história Dele de maneira tão libertadora!

    p.s.: faltou apenas a parte do anjo Gabriel.
    ops, não pude evitar sua participação especial.

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